Versões da Bíblia

17/02/2024

Versões da Bíblia

As palavras “versões” e “traduções” significam a mesma coisa.

I. VERSÕES DO ANTIGO TESTAMENTO

1. SEPTUAGINTA (LXX). Esta é uma tradução do original hebraico do Antigo Testamento para o grego. Foi feita em Alexandria, entre os séculos III e I a.C., por diversos tradutores.

2. LATIM ANTIGO. Esta denominação é para distinguir dos manuscritos posteriores, como os da Vulgata. Estes manuscritos já existiam ao final do II séc. d.C. Suas traduções são da LXX e chegaram até nós muito fragmentadas.

3. VULGATA LATINA. Feita ao final do séc. IV d.C., por Jerônimo. Ele fez três traduções do livro de Salmos, sendo que a segunda é que foi adotada. Sua tradução do Antigo Testamento, a princípio, deixou de lado os livros apócrifos, por não desejar que os mesmos fossem incluídos em sua versão, embora já houvesse traduzido os livros de Judite e Tobias. Ao final, estes livros foram adicionados, fazendo parte da Vulgata. Esta foi a Bíblia oficial durante toda a idade média, na Europa ocidental. Existem cerca de oito mil manuscritos da Vulgata.

4. SIRÍACO PESHITTA. Foi traduzida do hebraico, no II século d.C. e era o texto padrão dos cristãos sírios. Posteriormente houve uma revisão, pela LXX.

5. HEXAPLA SIRÍACA. Foi traduzida com base na LXX de Orígines, pelo bispo de Tela, em 617 d.C. Este manuscrito foi bastante estudado no exame da LXX, em virtude de ter preservado as notas críticas do original grego de Orígines.

6. COPTA (egípcio). São quatro as versões do Antigo Testamento nesta língua. A saídica ou tebaica foi preparada no século II d.C., no sul do Egito, com base na LXX. No século IV d.C., no norte do Egito, foi preparada a versão boárica ou menfítica. Com poucos fragmentos, conhece-se também as versões fayúmica e akhmímica.

7. VERSÕES MENORE Foram traduzidas para o gótico, etíope e o armênio, no século IV d.C.

II – VERSÕES DO NOVO TESTAMENTO

1. LATIM ANTIGO. Foi produzida no fim do século II, d.C., provavelmente na África. Existe a forma africana e européia. A européia, ou itálica, serviu como uma das bases da Vulgata de Jerônimo, quanto ao Novo Testamento. A africana foi usada por Cipriano. A versão em Latim Antigo é importante testemunho do tipo de texto anterior ao Textus Receptus.

2. DIATESSARON. Preparada em grego cerca de 160 d.C. e traduzida para o siríaco. Trata-se de uma harmonia dos evangelhos de autoria de Taciano.

3. SIRÍACO ANTIGO. Traz este nome para não ser confundida com a versão Peshitta posterior, que era a versão popular em siríaco. Essa versão existe nos manuscritos sinaítico e curetoniano.

4. PESHITTA. É uma tradução para o siríaco, do fim do século IV d.C. Seu cânon é composto por apenas 22 livros, não trazendo II Pedro, e III JoãoJudas e Apocalipse.

5. COPTA. São conhecidas cinco versões do Novo Testamento em copta ou egípcio. A versão saídica é a mais antiga e apareceu no sul do Egito no século II d.C. Do norte do Egito veio à versão boárica e tornou-se a versão dominante, pois é representada por um número maior de manuscritos. As outras versões são a fayúmica, a akhmímica e a do Egito Médio.

6. ARMÊNIA. É do final do século V d.C. e tem sua base numa fonte cujo texto tinha similaridade com os manuscritos gregos Theta, 565 e 700. Afasta-se muito dos melhores manuscritos gregos, aproximando-se do Textus Receptus. Há 1.244 cópias dessa versão.

7. GEÓRGIA. Seu manuscrito mais antigo é o Adysh, de 897 d.C. É possível que essa tradução tenha sua origem do texto armênio. Era a Bíblia da Geórgia.

8. VULGATA LATINA. Preparada por Jerônimo, ao final do século V, é uma revisão dos manuscritos mais antigos. Tornou-se o texto latino do Novo Testamento. A partir do Concílio de Trento, 1546, é considerado o texto oficial da Igreja Católica Romana. Cerca de oito mil manuscritos da Vulgata apresentam uma mistura de tipos textuais, visto suas adições, exclusões e contaminações, feitas por muitos escribas através dos séculos.

9. VERSÕES SECUNDÁRIAS. Destacamos a gótica, etíope, eslavônica, árabe e persa.

10. VERSÕES MODERNAS. Mesmo antes da Reforma protestante houve muitas traduções da Bíblia para as diversas línguas faladas. Em 1382, com John Wycliff, teve início a Bíblia inglesa, com base na Vulgata Latina; por isso inclui também os livros apócrifos. Em 1280 e 1400 surgiram porções da Bíblia em português (veja o artigo sobre a BÍBLIA EM PORTUGUÊS). Mas somente com a Reforma protestante é que a Bíblia começou a ser traduzida para o inglês, alemão, francês, italiano, espanhol, português e outras línguas européias. Para obter-se uma obra, para que não fosse volumosa, então mais cara, os tradutores procuravam produzir o texto com economia de palavras, perdendo em muito o significado das línguas originais. Isso foi corrigido em tempo e começaram a surgir traduções mais fieis ao texto original, sem preocupação com economia de palavras. Destas novas traduções destacamos a Amplified New Testament, da Zondervan Publishing House; The New Testament de Charles B. Williams e The New Testament, an Expanded Translation, de Kenneth S. Wuest. Outras traduções tornaram-se importantes: A Bíblia de Tyndale, traduzida em 1525 diretamente do hebraico e grego. A Versão do Rei Tiago (King James), baseada na Bíblia de Tyndale, sob a encomenda do Rei Tiago, surgiu em 1611 e popularizou-se entre os países de língua inglesa. The American Standard Revised Bible, lançada por ingleses e americanos em 1901, sendo uma espécie de revisão da versão do Rei Tiago.

A partir de 1804, com a British and Foreign Bible Society surgiram às modernas Sociedades Bíblicas que muito vêm contribuindo para a divulgação da Bíblia.

III – A BÍBLIA EM PORTUGUÊS

1. Traduções parciais. D. Diniz (1279-1325), rei de Portugal, traduziu da Vulgata os primeiros vinte capítulos do livro de Gênesis.

O rei D. João I (1385-1433) ordenou que houvesse uma tradução para o português. Alguns padres católicos, a partir da Vulgata, traduziram os evangelhos, Atos e as epístolas de Paulo. O próprio rei traduziu o livro de Salmos. Com esses livros publicaram a obra.

Mais tarde foram preparadas outras traduções de porções bíblicas: os evangelhos, que a infanta Dona Filipa, neta do rei D. João I, traduziu do francês; o evangelho de Mateus e porções dos outros evangelhos, da Vulgata, pelo frei Bernardo de Alcobaça; os evangelhos e as epístolas, pelo jurista Gonçalo Garcia de Santa Maria; uma harmonia dos evangelhos, por Valentim Fernandes, em 1495; em 1505, por ordem da rainha Leonora, foram publicados o livro de Atos e as epístolas gerais.

Outras traduções realizadas em Portugal foram: os quatro evangelhos, traduzidos pelo padre jesuíta Luiz Brandão; e, no início do século XIX, os evangelhos de Mateus e Marcos, pelo padre Antonio Ribeiro dos Santos.

Salienta-se que a dificuldade em se traduzir para os diversos idiomas era a oposição da Igreja Católica Romana que, ao longo dos séculos, fez implacável perseguição a estas obras, amaldiçoando quem conservasse traduções da Bíblia em “idioma vulgar”, como diziam. Por isso, também de muitas traduções escaparam somente um dois exemplares.

2. Traduções completas.

2.1 Tradução por João Ferreira de Almeida. Por conhecer o hebraico e o grego, usou os manuscritos dessas línguas para sua tradução. Quando iniciou o empreendimento era pastor protestante. Almeida utilizou-se do Textus Receptus, que representa os manuscritos do grupo bizantino, possivelmente o mais fraco entre os manuscritos gregos. Primeiramente traduziu e editou o N.T. publicado em 1681, em Amsterdã, Holanda. Essa tradução apresentava muitos erros. Almeida mesmo fez uma lista de dois mil erros. Muitos desses erros foram feitos pela comissão holandesa, que procurou harmonizar a tradução de Almeida com a versão holandesa de 1637. A dificuldade de Almeida é que não havia papiro algum e os unciais (manuscritos em letras maiúsculas) eram poucos. Esta a razão porque teve que lançar mão de fontes inferiores. Ele utilizou-se da edição de Elzevir do Textus Receptus, de 1633. As edições mais modernas muito progrediram na tradução. Com base nesta tradução foram lançadas a Revista e Atualizada, A Edição Revista e Atualizada e a Versão Revisada de acordo com os melhores textos em Hebraico e Grego, a versão que apresentamos neste programa, como a mais indicada para estudos.

2.2 Tradução de Antônio Pereira de Figueiredo. Teve como base a Vulgata Latina. Em 1896 fez sua primeira tradução em colunas paralelas da Vulgata e de sua tradução para o português. Essa tradução foi usada pela Igreja de Roma. Por ter sido utilizada a Vulgata como base, tem a desvantagem de não representar o melhor texto do N.T. que conhecemos pelos manuscritos unciais mais antigos e pelos papiros.

2.3 A Bíblia de Rahmeyer. Manuscrito do comerciante hamburguês Pedro Rahmeyer, que residiu em Lisboa, e traduziu em meados do século XVIII. Este manuscrito se encontra na Biblioteca do Senado de Hamburgo, Alemanha.

3. A Bíblia no Brasil. Traduções parciais

3.1 No Brasil, a primeira tradução, somente do Novo Testamento, foi feita por frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, traduzida da Vulgata e somente do N.T. Foi publicada em São Luiz do Maranhão. Esta obra teve forte impacto por trazer em seu prefácio acusações contra as “bíblias protestantes”, que estariam “falsificadas” e falavam “contra Jesus Cristo e contra tudo quanto há de bom”.

3.2 Primeira Edição Brasileira do Novo Testamento de Almeida. Esta edição foi revista por José Manoel Garcia, pelo pastor M.P.B. de Carvalhosa e pelo pastor Alexandre Blackford, agente da Sociedade Bíblica Americana no Brasil. Esta obra foi lançada em 1879 pela Sociedade de Literatura Religiosa e Moral do Rio de Janeiro.

3.3 Harpa de Israel, título dado à tradução do Livro dos Salmos, em 1898, por F.R. dos Santos Saraiva.

3.4 O Evangelho de Mateus, traduzida do grego em 1909 pelo padre Santana.

3.5 O Livro de Jó, publicado em 1912 por Basílio Teles.

3.6 O Novo Testamento, traduzido da Vulgata Latina por J. L. Assunção, em 1917.

3.7 O Livro de Amós, traduzido do idioma etíope por Esteves Pereira, em 1917.

3.8 O Novo Testamento e o Livro dos Salmos, baseados na Vulgata, em 1923, por J. Basílio Pereira.

3.9 Lei de Moisés (O Pentateuco) preparada em hebraico e português, pelo rabino Meir Masiah Melamed. Não há indicação de data.

3.10 Tradução do Padre Humberto Rodhen. Foi o primeiro católico a fazer uma tradução diretamente do grego. Traduziu o N.T. que foi publicado pela Cruzada de Boa Imprensa em 1930. Tal como Almeida utilizou-se de textos inferiores, por isso, sofreu severa crítica.

3.11 Nova Versão Internacional. Lançada em 1993 pela Sociedade Bíblica Internacional.

3. A Bíblia no Brasil. Traduções completas

3.1 Tradução Brasileira. Iniciada em 1902 e concluída em 1917, sob a direção do Dr. H. C. Tucker. A comissão tradutora utilizou-se de manuscritos melhores do que os de Almeida. Entretanto, nunca foi muito popular.

3.12 Tradução do Padre Matos Soares. Foi baseada na Vulgata. É de 1930, e em 1932 recebeu apoio papal. É muito popular entre os católicos.

3.13 Revisão da tradução de Almeida (Edição Revista e Atualizada). O trabalho de revisão iniciou-se em 1945, por uma Comissão formada pela Sociedade Bíblica do Brasil. A linguagem foi muito melhorada, até porque foram usados manuscritos gregos dos melhores.

3.14 Tradução pelos monges Meredsous (1959) (Bélgica). Editada pela Editora Ave Maria e traduzida do hebraico e grego para o francês e em seguida para o português por uma equipe do Centro Bíblico de São Paulo sob a supervisão do Frei João José Pedreira de Castro.

3.15 Revisão da tradução de Almeida (Imprensa Bíblica Brasileira). Foi publicada em 1967. Esta revisão segue os melhores manuscritos e, por isso, foi bem acolhida pelos estudiosos da Bíblia. É também a tradução que apresentamos nesta obra.

3.16 A Bíblia de Jerusalém editada no Brasil em 1981 por Edições Paulinas, traduzida pelos padres dominicanos da Escola Bíblica de Jerusalém, incluindo alguns exegetas protestantes. A edição brasileira foi feita sob a coordenação de Ludovico Garmus e editada pela Editora Vozes e pelo Círculo do Livro.

3.17 A Bíblia na Linguagem de Hoje (Novo Testamento). Publicada em 1988 pela United Bible Societies, através de seu ramo brasileiro e baseia-se na segunda edição do texto grego dessa sociedade. A intenção da United Bible Societies foi de publicar em vários idiomas, Novos Testamentos em conformidade com a linguagem comum e corrente.

3.18 Edição Contemporânea da Tradução de Almeida foi editada em 1990 pela Editora Vida. Essa edição eliminou arcaísmos do texto de Almeida.

MANUSCRITOS GREGOS

O Novo Testamento tem registros manuscritos de diversas formas e que serviram como testemunhos sobre seu texto.

1. Os PAPIROS.

Embora pelo século IV em quase todo o mundo já era utilizado o pergaminho, o papiro ainda era o instrumento principal de escrita dos livros bíblicos. Para essa finalidade o papiro foi usado entre os séculos I e VII. Há 76 papiros que contém quase 80% do texto do N.T.

2. Os UNCIAIS.

Os 252 manuscritos que levam este nome foram escritos em pergaminhos entre os séculos IV a IX. Foram escritos com letras maiúsculas.

2.1 CÓDICES BÍBLICOS EM MANUSCRITOS UNCIAIS

A. CODEX ALEXANDRINUS. Contém a Bíblia toda. Foi escrito em grego no século V d.C. Encontra-se no Museu Britânico. Embora muito bem conservado, apresenta algumas lacunas em Gênesis, I Reis, Salmos, Mateus, João e I Coríntios. O AT é da LXX, com algumas variações do tipo de texto. Os evangelhos seguem o texto bizantino, o restante do NT o alexandrino.

B. CODEX VATICANUS. Este manuscrito, do século IV d.C., que também abrange toda a Bíblia encontra-se na Biblioteca do Vaticano. Apresenta algumas lacunas: Os 45 capítulos iniciais de Gênesis, parte de II Reis, alguns Salmos, final da epístola aos Hebreus e o Apocalipse. O AT é da LXX. O NT é alexandrino.

C. CÓDEX EPHRAEMI SIRY RESCRIPTUS. Manuscrito da Bíblia toda, do século V d.C., e que está guardado na Bibliothèque Nationale de Paris. É chamado de “rescriptus” porque o texto original foi apagado, embora tenha ficado vestígios leves, e o material reutilizado no século XII para anotar as obras de Efraem, o sírio. Duzentos e oito páginas foram usadas para este fim e são as páginas que chegaram até nós. O texto bíblico foi restaurado por métodos modernos de recuperação. Estas páginas contém parte do livro de Jó, Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Cantares e quase todo o Novo Testamento, com exceção de II Tessalonicenses e II João

D. CÓDEX D OU DE BEZAE. Este manuscrito, do século V ou VI d.C., foi escrito nas língua grega, lado esquerdo e latina, lado direito. Contém os quatro evangelhos; Atos, com algumas lacunas; e uma parte de I João.

I. CODEX WASHINGTONIANUS II. É um manuscrito do século VII d.C., que se encontra na Coleção Freer do Instituto Smithsoniano de Washington, USA. Contém partes das epístolas de Paulo, e a carta aos Hebreus depois de II Tessalonicenses.

L. CODEX REGIUS. Manuscrito do século VIII d.C. que está na Biblioteca Nacional de Paris. Neste o evangelho de Marcos termina no final de 16:9. Em seguida apresenta dois finais alternativos deste evangelho.

W. CODEX WASHINGTONIANUS I. Foi produzido no século IV ou V d.C. e também pertence à Coleção Freer do Instituto Smithsoniano de Washington, USA. Contém os quatro evangelhos, na ordem ocidental: Mateus, João, Lucas e Marcos. Foi copiado de outros manuscritos, pois apresenta diversos tipos de textos. Apresenta dois finais para o evangelho de Marcos.

ALEPH: CODEX SINAITICUS. O achado deste manuscrito envolve um drama vivido por Tischendorf, que o encontrou. Em 1844 Constantino Tischendorf trabalhava na biblioteca do mosteiro de Santa Catarina, na península do Sinai, e notou uma cesta cheia de páginas soltas de manuscritos. Ficou eufórico quando notou que acabara de encontrar um dos mais antigos manuscritos bíblicos na língua grega. Tirou 43 páginas, que atendendo seu pedido foram-lhe dadas. Outro bibliotecário alertou que duas cestas contendo o mesmo tipo de material fora consumido na fornalha do mosteiro, para aquecer os monges. Entretanto, cerca de oitenta páginas do AT ainda existiam. Não conseguiu ir mais longe em sua busca, porque ao observar seu entusiasmo, os monges suspeitaram e deixaram de cooperar. Tischendorf voltou à Europa com suas 43 páginas. Em 1854 retornou ao mosteiro, mas não foi desta vez que os monges concordaram em falar sobre o restante das páginas de sua descoberta. Mas, em 1859, voltando novamente ao mosteiro, sob o patrocínio do Czar Alexandre II, patrono da igreja grega. Assim mesmo os monges não quiseram discutir sobre seu achado. Entretanto, um dos monges, inocentemente falou de uma cópia da Septuaginta que possuía e teria prazer em mostrar-lhe. Para surpresa de Tishendorf, o manuscrito era o mesmo do qual ele encontrara as 43 páginas. Continha o NT completo e parte do AT. Debalde Tischendorf tentou convencer o monge em presenteá-lo ao Czar russo. Mas o czar ofereceu um presente ao mosteiro, de acordo com costumes orientais, e levou o manuscrito (livrando-o do risco de aquecer a fornalha dos monges). Em 1933 o Museu Britânico adquiriu o manuscrito, onde se encontram até hoje. O manuscrito contém parte dos livros de Gênesis, Números, I Crônicas, II Esdras, os livros poéticos, Ester, Tobias, Judite e os livros proféticos, com exceção de Oséias, Amós, Miquéias, Ezequiel e Daniel. Estão ali incluídos também I e IV Macabeus. O NT está completo. As epístolas de Barnabé e uma porção do Pastor de Hermas também estão no manuscrito. O Texto assemelha-se ao Vaticanus e ao Alexandrinus.

THETA: CODEX KORIDETHIANUS. Texto bizantino, do século IX d.C.

PI: CODEX PETROPOLITANUS. Manuscrito do século IX d.C.

3. OS MINÚSCULOS.

São 2.646 escritos em pergaminhos entre os séculos IX e XV, em letras minúsculas.

4. OS LECIONÁRIOS.

1997 pergaminhos levam este nome. Trazem textos selecionados para serem lidos nas igrejas. Foram escritos nas mesmas datas dos unciais e minúsculos.

5. AS OSTRACAS.

Trechos do N.T. foram escritos em pedaços de cerâmica. Temos 25 exemplares, que contém breves porções do N.T.

Estas informações foram colhidas do “Dicionário J.Davis”.

VERSÕES

Tradução da Bíblia, ou de alguns de seus livros, para línguas vernáculas, para uso das pessoas pouco versadas nas línguas originais, ou que as ignoram completamente.

As versões são imediatas ou mediatas, segundo são feitas diretamente do texto original, ou por meio de outras traduções. Existem quatro versões do Antigo Testamento, feitas imediatamente sobre o original: A versão dos Setenta, os Targuns de Onkelos e de Jônatas bem Uzziel, a Pishito Siríaca e a Vulgata Latina. A importância destas versões deriva-se de terem sido feitas antes que o texto hebreu recebesse as vogais massoréticas.

O Pentateuco Samaritano não é propriamente uma versão, é o texto hebreu escrito em Samaritano ou com os velhos caracteres hebraicos, com várias divergências do texto hebreu dos massoretas. A versão samaritana do Pentateuco é tradução do texto divergente para o dialeto samaritano. Ver Pentateuco Samaritano.

I. Antigas versões do Antigo Testamento feitas para uso dos judeus

1. A Versão dos Setenta. A mais célebre versão das Escrituras do Antigo Testamento hebreu e a mais antiga e a mais completa que se conhece, é a dos Setenta. Deriva este nome, figurado pelos algarismos romanos LXX, por haver sido feita por setenta tradutores que a ela se entregaram, no tempo de Ptolomeu Filadelfo (grego: Πτολεμαίος Φιλάδελφος) entre 285 e 247. A. C. Um sacerdote judaico de nome Aristóbulo, residente em Alexandria, no reinado de Ptolomeu Filometor, 181-146, A. C. referido em 2 Mac 1: 10, e citado por Clemente de Alexandria e por Euzébio, diz que, quando as partes originais referentes à história dos hebreus haviam sido vertidas para o grego, já os livros da Lei estavam traduzidos para esta língua sob a direção de Demétrio Falero no reinado de Ptolomeu Filadelfo. A mesma tradução, consideravelmente embelezada, se lê em uma carta escrita por Aristeas a seu irmão, tida como espúria pelos modernos doutores. A mesma história de Aristeas, repete-a Josefo com ligeiras alterações, que de certo a tinha diante dos olhos. Diz ele que Demétrios Falero, bibliotecário de Ptolomeu Filadelfo, que reinou de 283-247 A. C. desejou adicionar à sua biblioteca de 200.000 volumes um exemplar dos livros da lei dos hebreus, traduzidos para a língua grega, a fim de serem mais bem entendidos. O rei consentiu nisso e pediu a Eleazar, sumo sacerdote em Jerusalém, que lhe mandasse setenta e dois intérpretes peritos, homens de idade madura, seis de cada tribo, para fazerem a tradução. Estes setenta e dois doutores chegaram a Alexandria levando consigo a lei, escrita com letras de ouro em rolos de pergaminho. Foram gentilmente recebidos e os aboletaram em uma solitária habitação na ilha de Faros, situada no porto de Alexandria, onde transcreveram a lei e a interpretaram em setenta e dois dias, Antig. 12:2, 1-13; cont. Apiom 2:4.

Estas antigas informações acerca da origem da versão grega são muitas valiosas, se bem que não se possa depositar em seus pormenores absoluta confiança, e bem assim quanto ao escopo da obra. É admissível, não obstante, que a Versão dos Setenta teve sua origem no Egito, que o Pentateuco foi traduzido para a língua grega no tempo de Ptolomeu Filadelfo; que os demais livros foram gradualmente traduzidos e a obra terminada no ano 150 a.C. Jesus, filho de Siraque, no ano 132 a.C. (Prólogo ao Ecclus), refere-se a uma versão grega da lei dos profetas e de outros livros. É provável que a obra tenha sido revista no período dos Macabeus. A versão é obra de muitos tradutores, como se vê pela diferença de estilo e de método. Em várias partes existem notáveis desigualdades e muitas incorporações. A tradução do Pentateuco, exceto lugares poéticos, Gn cap. 49; Dt caps 22 e 23, é a melhor parte da obra, e o todo revela uma tradução fiel, se bem que não é literal. Os tradutores dos Provérbios e de Jó mostram-se peritos no estilo, mas pouco proficientes em hebraico, que em alguns lugares traduziram um pouco arbitrariamente. Fizeram a tradução dos Provérbios sobre um texto hebreu, muito diferente do atual texto massorético. O sentido geral dos Salmos é muito bem reproduzido. O Eclesiastes está servilmente traduzido. A tradução dos profetas é de caráter muito desigual; a de Amós e Ezequiel é sofrível; a de Isaías deixa muito a desejar; a de Jeremias parece ter sido feita sobre outro texto que não o massorético. De todos os livros do Antigo Testamento, o de Daniel é o mais pobremente traduzido, de modo que os antigos doutores, a começar por Ireneu e Hipólito, substituíram-no pela versão de Teodócio.

Cristo e os seus apóstolos serviam-se freqüentemente da Versão dos Setenta. Citando o Antigo Testamento, faziam-no literalmente, ou de memória, sem alteração essencial; em outros casos, cingiam-se ao texto hebreu. Existem cerca de 350 citações do Antigo Testamento, nos evangelhos, nas epístolas e nos Atos, e somente se encontram umas 50 diferenças materiais da versão grega. O eunuco que Filipe encontrou lendo as Escrituras servia-se do texto grego, At 8: 30-33.

Fizeram-se três principais revisões dos Setenta: uma no ano 236 A. D. e duas outras, antes do ano 311. A de Orígenes na Palestina, a de Luciano na Ásia Menor e em Constantinopla, e a de Hesíquios no Egito. O manuscrito dos Setenta que existe no Vaticano considera-se o mais perfeito, de acordo com o texto original; presume-se que seja a reprodução do mesmo texto de que se serviu Orígenes e que aparece na quinta coluna da sua Hexapla. A revisão de Luciano foi editada em parte por Lagarde e por Oesterley. Luciano era presbítero de Antioquia e morreu mártir em Nicomédia no ano 311, ou 312. Deu à luz o texto revisto dos Setenta, baseado na comparação do texto grego comum, com o texto hebreu, considerado bom, porém diferente do massorético. Hesíquios era bispo no Egito e sofreu o martírio no ano 310 ou 311; o seu trabalho perdeu-se. Existe, contudo, um códice, assinalado pela letra Q, depositado na biblioteca do Vaticano contendo os profetas que lhe é atribuído.

2. Outras versões gregas menores. Depois da destruição de Jerusalém no ano 70, a versão dos Setenta perdeu muito do seu valor entre os judeus, em parte em conseqüência do modo por que os cristãos a usavam para fundamentar as doutrinas de Cristo, e em parte, porque o seu estilo era falho de elegância. Por causa disto, os judeus fizeram três versões dos livros canônicos do Antigo Testamento, no segundo século:

(I) A tradução de Áqüila, natural do Ponto e prosélito do judaísmo, viveu no tempo do imperador Adriano, e tentou fazer uma versão literal das Escrituras hebraicas, com o fim de contrariar o emprego que os cristãos faziam dos Setenta para fundamentar as suas doutrinas. A tradução era tão servilmente liberal, que em muitos casos se tornava obscura aos leitores que não conheciam bem o hebreu como o grego.

(II) A revisão dos Setenta por Teodócio, judeu prosélito, natural de Éfeso, segundo Ireneu, e segundo Euzébio, um ebionita que acreditava na missão do Messias, mas não na divindade de Cristo. Viveu no ano 160, porque dele faz menção Justino Mártir. Na revisão que fez dos Setenta, serviu-se tanto da tradução elegante, porém, perifrástica feita por Símaco, samaritano ebionita. Orígenes arranjou o texto hebreu em quatro versões diferentes, em seis colunas paralelas para efeito de estudo comparativo. Na primeira coluna vinha o texto hebreu; na segunda, o texto hebreu em caracteres gregos; na terceira, a versão de Áqüila; na quarta, a de Símaco; na quinta, a dos Setenta; e na sexta, a revisão de Teodócio. Em virtude destas seis colunas tomou o nome de Hexapla. Na coluna destinada ao texto dos Setenta, marcava com um sinal palavras que não encontrava no texto hebreu. Emendava o texto grego, suprindo as palavras do texto hebraico que lhe faltavam, assinalando-as por um asterisco. Conservou a mesma grafia hebraica para os nomes próprios.

Orígenes preparou uma edição de menor formato, contendo as últimas quatro colunas, que se ficou chamando Tétrapla.

Estas duas obras foram depositadas na biblioteca fundada por Panfilo, discípulo de Orígenes em Cesaréia. S. Jerônimo as consultou no quarto século e ainda existiam no século sexto. Parece que desapareceram, quando os maometanos invadiram a cidade em 639. Alguns fragmentos da grande obra de Orígenes ainda se conservam nas citações que dela fizeram os santos padres. A coluna dos Setenta foi dada à luz por Panfilo e Euzébio, e vertida para o siríaco por Paulo, bispo de Tela em 617-18. Orígenes adotou método infeliz, comparando o texto dos Setenta com o texto hebreu do seu tempo. Uma vez que o desideratum dos sábios é restaurar o texto grego como o deixaram as mãos dos tradutores, porque esse texto iria lançar luz sobre o texto hebreu por eles usado?

Ainda mais, os sinais e asteriscos que ele usou, foram muitas vezes negligenciados pelos copistas e talvez mesmo os tivessem empregado sem a devida cautela, de modo que os acréscimos feitos à versão dos Setenta e às porções dela que não encontrou no texto hebreu, nunca mais se puderam descobrir.

3. Targuns. Quando os judeus voltaram do cativeiro de Babilônia, o idioma hebreu de seus antepassados deixou de ser a linguagem ordinária do povo. O aramaico, ou pseudo caldaico, tomou o seu lugar. Em breve foi necessário que a leitura das Escrituras feitas em público fosse oralmente explicada pelo leitor, ou por seu assistente, a fim de que o povo a pudesse compreender. O costume de explicar as palavras e frases obscuras quando se liam nas Escrituras em público, já estava em voga no tempo de Esdras, Ne 8: 8. Esta passagem tem sido citada como prova evidente de que as palavras que se liam precisavam de tradução. Isto, porém, diz mais do que a letra afirma, dependendo de uma resposta à pergunta: Teria os hebreus adotado outra língua durante o exílio? O Targum oral, isto é, a interpretação ou tradução, que se tornou necessária, foi a princípio uma simples paráfrase em aramaico. Mas eventualmente foi elaborado, e a fim de dar-lhe forma definitiva e servir de padrão autorizado para ensino do povo, e por isso reduziram-no a escrito. Estes Targuns são de grande auxílio para se determinar o texto como era lido nas sinagogas antigas e para ter-se o sentido que os judeus davam às passagens difíceis. Os Targuns principais eram os de Onkelos sobre o Pentateuco e o de Jônatas ben Uzziel sobre os profetas. Segundo o Talmude, Onkelos era amigo de Gamaliel e companheiro de Paulo nos estudos, e, portanto, viveu pelo ano 70. O seu Targum deveria antedatar o princípio do segundo século; mas geralmente se diz que pertence a data posterior, isto é, ao princípio do segundo século. É um Targum puramente literal. O de Jônatas Uzziel é, pelo contrário, perifrástico e deve ser de data posterior. Os Targuns sobre o Hagiógrafo datam do undécimo século.

II. Versões antigas de uma parte ou do todo da Bíblia, destinadas principalmente aos cristãos

1. Versões siríacas do Novo Testamento

(I) Antiga versão siríaca do Novo Testamento, representada pelos evangelhos descobertos por Mrs. Lewis no Conselho de Santa Catarina do Monte Sinai em 1892, e pelos fragmentos intimamente relacionados com eles, descobertos por Cureton na Síria, em um convento do deserto da Nitria, em 1841-1843.

(II) A Pesito, que significa simples ou vulgata. O Antigo Testamento foi tirado diretamente do hebreu, e principalmente destinado à instrução dos prosélitos hebreus do primeiro século. O Novo Testamento é uma revisão do antigo siríaco, com o fim de o pôr em maior harmonia com o texto grego e melhorar a sua dicção e estilo. A Pesito, parece, já estava em circulação no segundo século. Em virtude de sua elegância denominam-na rainha das versões.

(III) Versão Filoxênia do Novo Testamento. Deram-lhe este nome porque foi traduzida no ano 508 por Filoxeno, bispo de Hierápolis, na Ásia Menor.

(IV) Versão do Novo Testamento, siríaca da Palestina ou de Jerusalém; ainda pouco conhecida, mas que promete ser de grande valor crítico.

2. Versões latinas.

(I) A antiga versão latina ou africana do norte. Pelo fim do segundo século entrou em circulação ao norte da África uma versão latina das Santas Escrituras. Faziam uso dela Tertuliano que morreu no ano 220, Cipriano e o grande Agostinho. O Antigo Testamento não foi vertido diretamente do hebreu, e sim baseado no texto grego.

(II) A versão Ítala ou Italiana. Diz Santo Agostinho que existia uma tradução do Novo Testamento que alguém havia feito com grande conhecimento da língua grega. A versão africana tinha uma linguagem provinciana que desagradava ao ouvido dos romanos que falavam o latim de Roma. No quarto século, pois, fez-se uma revisão do texto africano na Itália, e por este motivo se ficou chamando Ítala.

(III) A Vulgata. À publicação da versão italiana, seguiram-se várias revisões do que resultou grande confusão de textos, até que, afinal, no ano 383, um padre cristão de nome Jerônimo ou Hieronymo, 329, ou de 381 a 420, o mais sábio de seu tempo, e homem dotado de grande piedade e valor moral, a pedido de Damasco, bispo de Roma, empreendeu uma revisão do Novo Testamento latino. Comparou os evangelhos com o original grego, removeu as interpolações e corrigiu muitos erros graves. Reviu também duas versões latinas dos Salmos, comparando-as com os Setenta. Estas revisões têm o nome de versões romanas e galicanas dos Salmos, porque foram introduzidas em Roma e na Gália respectivamente. Jerônimo então se dispôs a fazer uma revisão da Bíblia inteira. Em 387, instalou-se em um mosteiro de Belém, onde começou e terminou a sua obra, baseando-se no texto da Hexapla de Orígenes. Porém, ultimamente fez uma versão diretamente do hebraico, referindo-se constantemente às versões gregas, com especial preferência à de Símacus. Quando moço, dedicou-se ao estudo do hebreu. Depois de transferir-se para Belém, aperfeiçoou-se neste estudo com o auxílio de mestres judaicos. Os quatro livros dos Reis, prefaciados pelo famoso Prologus galleatus, dando uma notícia do cânon hebreu, saíram à luz no ano 392; a obra inteira completou-se no ano 405. Os homens de seu tempo não lhe deram o valor merecido, nem reconheceram o grande serviço que lhes havia prestado o eminente padre, cujo temperamento não era dos mais tolerantes; retribuiu com o maior desprezo as agressões da ignorância. Com o decorrer do tempo, a sua obra, que não era feita para uma geração, e sim para os séculos futuros, tem merecido a consagração devida. A Vulgata passou a ser a Bíblia da igreja do ocidente na Idade Média, e, não obstante as traduções em vernáculos, ainda é a Bíblia da Igreja Católica Romana. Por ordem do imperador Carlos Magno, no ano 802, Alcuíno passou-a em revista. A Vulgata Latina foi a primeira obra impressa logo depois da invenção da tipografia, saindo à luz no ano de 1455. No ano de 1546, a oito de abril, resolveu o Concílio de Trento que se fizesse nova revisão do texto. Os encarregados desta revisão, demoraram-se em fazê-la, até que finalmente, um pontífice de vontade férrea, o papa Xisto V, meteu mãos à obra, tomando parte pessoal no seu acabamento. A nova revisão saiu publicada em 1590. Outra edição veio à luz sob os auspícios do papa Clemente VIII em 1592; muito melhorada, sem contudo prejudicar a edição Sixtina. Ambas continuam em uso. O texto Clementino, do Antigo Testamento, juntamente com algumas variantes do códice Amiantinus, foi editado por Heyse e Tischendorf. Muitos termos técnicos usados na teologia, saíram da Vulgata, como, por exemplo, as palavras sacramento, justificação e santificação, provenientes do latim sacramentum, justificatio e sanctificatio.

3. Versões Cópticas do Novo Testamento. Aparecem principalmente em dois dialetos: o menfítico e o tebaico. Supõe-se que a versão menfítica data do fim do segundo século. É muito fiel e conserva o melhor texto corrente entre os padres de Alexandria, isenta das corrupções prevalecentes no segundo século. A versão tebaica é mais tardia e menos fiel ao original.

4. Versão Etíope da Bíblia, feita em alguma época, entre o século quarto e o sexto; é o mais antigo monumento da literatura etíope, bem como a pedra angular de seus fundamentos. Os que a traduziram não eram muito familiarizados com o grego, nem possuíam erudição; não obstante, é tradução fiel. O Antigo Testamento foi vertido dos Setenta, e, portanto, vem auxiliar a verificação do texto grego.

5. A Versão Gótica, feita na última metade do quarto século pelo bispo Ulfilas, compreendendo toda a Bíblia, excetuando os quatro livros dos Reis, que o bispo omitiu, por julgar que a narração das guerras e do combate à idolatria seria de mau efeito nas mãos dos godos. Desta versão, existe a maior parte do Novo Testamento e algumas porções do Antigo Testamento. A tradução é muito fiel e esmerada.

6. Versões Árabes. As que existem são antigas, e não merecem importância, sob o ponto de vista crítico.

III. Versões Inglesas

1. Antigas Versões. Nos tempos dos anglo-saxônios fizeram-se traduções em vernáculo de algumas partes das Escrituras, como os Salmos, os dez mandamentos e partes do Novo Testamento. Em consequência das alterações de linguagem, por causa da conquista normanda, alguns livros da Bíblia, especialmente os evangelhos, foram vertidos para o idioma nacional. Não houve nenhuma tentativa de uma versão integral.

2. A Bíblia de Wycliffe e de Purvey. A primeira aparece entre 1382 e 83; e a segunda em 1388. A primeira saiu em linguagem robusta e tersa, mas de pouco polimento; é atribuída a Wycliffe. A segunda em estilo mais primoroso saiu das mãos de Purvey, porque Wycliffe, nascido e 1324, havia falecido a 31 de dezembro de 1384. A versão mais conhecida é a de Purvey. Ambas as versões foram tiradas da Vulgata Latina. A Versão de Wycliffe foi a primeira que se fez para o inglês moderno e serviu-lhe de modelo; também exerceu grande influência na vida nacional. A princípio circulava em manuscritos; e só foi impressa em 1848.

3. Pelo ano 1526, chegou à Inglaterra uma tradução do Novo Testamento, segundo o original grego, obra do reformador William Tyndale, que havia fugido da sua pátria para escapar às perseguições. Foi publicada em Worms. Esta versão obedecia à versão grega feita por Erasmo e publicada em 1519, e sob consulta da edição de 1522. Tyndale fez tradução diretamente do grego, auxiliando-se ao mesmo tempo, do Novo Testamento de Lutero e da Vulgata. A sua obra sofreu grande oposição dos altos dignitários da igreja dominante, mas o povo a recebeu alegremente. O livro estava cheio de pestilentes erros e foi queimado na praça pública. Em 1530 e 1534, publicou uma tradução do Pentateuco, e em 1531, uma do livro de Jonas, ambas feitas diretamente do hebreu com o auxílio da Bíblia de Lutero e da Vulgata. Em 1534 publicou em Antuérpia mais uma edição do Novo Testamento. É fora de dúvida que ele traduziu outros livros do Antigo Testamento, além dos já mencionados, provavelmente até ao fim dos livros das Crônicas e alguns livros proféticos, porém não chegou a publicá-los em vida. Foi preso a 23 ou 24 de maio de 1535, em Antuérpia, onde se havia estabelecido, e a 6 de outubro de 1536 foi, primeiramente, estrangulado e depois queimado como herético. Mas a sua obra permaneceu. Fixou os moldes da tradução da Bíblia; a sua dicção e o seu estilo vivem na versão inglesa, à qual emprestam beleza literária e rigidez de feição.

4. A Bíblia de Coverdale. Esta obra foi publicada em 1535, sem indicar o nome do impressor, nem o lugar de sua procedência. Provavelmente foi em Zurique, que reclama essa honra, mas é bem possível que fossem Frankfurt ou em Colônia. É a primeira Bíblia completa que se publicou em inglês. O Novo Testamento e a maior parte do Antigo, são visivelmente da versão de Tyndale. Somente a parte compreendida desde Jó a Malaquias foi traduzida independentemente por Miles Coverdale, servindo-se, não do original hebraico, e sim de uma Bíblia alemã impressa em Zurique entre 1527 e 1529. A versão dos Salmos, virtualmente imutável, ainda figura no livro do ritual da Igreja de Inglaterra.

5. A Bíblia de Matheus. O nome de Tomás Mateus é pseudônimo adotado por John Rogers, sucessor de Tyndale, como capelão servindo aos negociantes ingleses que moravam em Antuérpia e que foi o primeiro mártir das perseguições de Maria Tudor. Em 1537 imprimiu uma edição da Bíblia, cremos que na mesma cidade de Antuérpia. Continha o texto de Tyndale. Os livros não contidos na versão de Tyndale, ele os tirou da de Covarde. Era acompanhada de audaciosas anotações; contudo foi a primeira Bíblia licenciada pelas autoridades públicas.

6. A Bíblia de Taverner, publicada no ano de 1539, destinada a contrapor-se à influência da Bíblia de Mathews e principalmente às suas atrevidas anotações.

7. A Grande Bíblia, também chamada a Bíblia de Cranmer. O primeiro nome justificava-se pelo seu tamanho: cada página media 13 ¼ por 7 ½ polegadas, e o segundo nome vinha-lhe de ter sido Cranmer quem escreveu a introdução. Esta Bíblia foi empreendida por sugestão de Cromwell, e representa a revisão do texto da Bíblia de Mathews. Veio à luz em 1539-41. Teve caloroso acolhimento. Esgotaram-se logo sete edições.

8. A Bíblia de Genebra. Resultou dos esforços de três exilados refugiados em Genebra, durante as perseguições de Maria a Sangüinária. Foram eles Whittingham, Gilby e Sampson, que a traduziram cotejando a Grande Bíblia. O Novo Testamento apareceu em 1557 e a Bíblia inteira em 1560. Estas duas edições foram as primeiras que apareceram divididas em versículos. Os tradutores serviram-se da colaboração dos mais ilustres teólogos daquele tempo. Era um volume manual de tamanho do in quarto pequeno. O povo a recebeu com grande entusiasmo, especialmente as pessoas que tendiam para os Puritanos. Durante setenta e cinco anos esteve em uso na Inglaterra. Era acompanhada de notas, que lhe serviam de bom comentário juntamente com algumas exposições práticas e doutrinais. Foi a primeira Bíblia impressa na Escócia.

9. A Bíblia dos Bispos. A popularidade da Bíblia de Genebra não agradou aos bispos, que em 1568 publicaram a sua Bíblia, vasada nos moldes da de Genebra, e dividida em capítulos e versículos. Em 1571, o Sínodo aprovou-a e mandou que fosse posta em todas as igrejas.

10. A Bíblia de Reims e de Douay. Esta é a versão autorizada pela Igreja Católica Romana para o povo inglês. Foi traduzida da Vulgata. O Novo Testamento saiu à luz em Reims no ano de 1582, e o Antigo Testamento, em Douay em 1609-10. Contém comentários de elevada controvérsia. O estilo tinha o sabor latino, pondo em curso muitas palavras deste idioma, entre as quais se contam: impenitente, propiciação, remissão, etc.

11. Versão Autorizada. O Dr. Reynolds, presidente do Colégio Corpus Christi de Oxford, propôs na Conferência de Hampton, a 16 e 18 de janeiro de 1604, durante a discussão entre anglicanos e puritanos, que se fizesse uma versão autorizada da Bíblia. O rei Tiago I, muito conhecido pelo interesse que mostrava por assuntos teológicos, acolheu entre outras coisas “que se fizesse uma tradução da Bíblia, diretamente do hebraico e do grego, para ser impressa e publicada sem notas marginais, destinada a ser lida em todas as igrejas da Inglaterra por ocasião do culto divino”.O rei nomeou cinqüenta e quatro tradutores, mas somente quarenta e sete tomaram parte neste serviço. Esta comissão dividia-se em seis grupos: dois funcionavam em Westminster, dois em Oxford, e dois em Cambridge. Concluíram o trabalho em 1611, acompanhado de uma dedicatória ao rei Tiago. Não foi realmente nova tradução, merece antes o nome de revisão. É endereçada a todos os cristãos que falam a língua inglesa, e está atualmente em uso.

12. A Versão Revista. A Versão da antiga Bíblia já tinha um curso de mais de dois séculos e meio. A descoberta de novos manuscritos e o estudo cuidadoso dos textos revelaram a existência de erros em o Novo Testamento grego que serviu para a versão inglesa. Tendo-se obtido um texto mais perfeito, além de ter havido grandes progressos no estudo do grego e do hebraico, durante o mesmo período, em fevereiro de 1870, em reunião havia em Canterbury, resolveu-se rever a antiga versão. Formaram-se duas comissões, uma para o Novo Testamento e outra para o Antigo. A do Antigo Testamento compunha-se de vinte e sete membros, e a do Novo Testamento, também de vinte e sete membros. A maior parte do tempo funcionou só com vinte e quatro. Dois terços pertenciam à igreja de Inglaterra. Havia mais duas comissões na América cooperando neste trabalho, compostas, uma de catorze membros para o Antigo Testamento e outra de treze para o Novo, representando diferentes igrejas protestantes. A revisão começou a 2 de junho de 1870. Na revisão do Novo Testamento gastaram-se dez anos e meio, e saiu à luz em maio de 1881. A revisão do Antigo Testamento começou a 30 de junho de 1870 e terminou catorze anos depois, a 20 de junho de 1884. A Versão Revista Americana e a Versão Revista de 1881 foram novamente editadas no Novo Testamento em 1900 e o Antigo em 1901.

A edição americana incorporou no texto as variantes e traduções preferidas pelas duas comissões, adiciona referências às passagens ilustrativas paralelas, fornece indicações para os tópicos de cada página, muda o número dos vv. da margem para o texto, substitui o nome de Jeová pelo de Senhor e Deus, onde ele existe no original, aumenta o número de mudanças por amor aos eufemismos. A Versão Revista é inferior à Versão Autorizada na felicidade da expressão, e as sentenças são menos perfeitas no seu ritmo e na sua cadência. Como trabalho científico, é muito superior à Antiga Versão, especialmente nas partes poéticas e proféticas do Antigo Testamento, e nas epístolas do Antigo Testamento, e nas epístolas do Novo em que o sentido se tornou mais claro. A ortografia dos nomes próprios foi grandemente melhorada.

IV. Versões em português.

Entre os antigos monumentos da língua portuguesa, encontram-se alguns fragmentos da História Sagrada. Foi, porém, a rainha D. Leonor, mulher de D. João II, quem fez imprimir em 1495, a expensas suas, a versão portuguesa da “Vida de Cristo”, obra escrita em latim por Ludolto ou Lentolfo da Saxônia, na qual completa o evangelho de S. Matheus, com interpolações das passagens dos de S. Marcos, S. Lucas e S. João que não correspondem às daquele. Em 1505 a rainha D. Leonor mandou ainda imprimir os Atos e as epístolas de Tiago, Pedro, João e Judas, traduzidas anteriormente por frei Bernardo Brivega.

Limitando-nos a mencionar as traduções dos evangelhos e epístolas em um antigo missal, por Gonçalo Garcia, a de frei Francisco de Jesus Maria Sarmento, paráfrase em quarenta e quatro volumes publicados em 1777, a de A. L. Blackord, que em 1879, publicou no Rito de janeiro o Novo Testamento completo, vertido do grego, e ainda outras, tratamos aqui das principais versões em uso:

1. Almeida. João Ferreira de Almeida, nascido em 1628, em Torre de Tavares, Portugal, emigrou para a Holanda, donde foi para Java em 1641. Ali uniu-se à igreja reformada portuguesa. Em 1642, traduziu do espanhol para o português um resumo dos evangelhos e das epístolas. Iniciou a tradução da Bíblia pelo Novo Testamento, logo depois de sua ordenação a 16 de outubro de 1656. O Novo Testamento, vertido do grego, foi concluído em 1670, sendo impresso em Amsterdão em 1681. Almeida faleceu a 6 de agosto de 1691, deixando o Antigo Testamento vertido do hebraico até os últimos versículos da profecia de Ezequiel. Alguns missionários do Tranquebar, a expensas de Teodoro Van Cloon, governador geral da Índia holandesa, cotejaram a tradução de Almeida pelo hebraico, e completaram a obra. O mais ilustre dos continuadores desse trabalho foi Nicolau Dal. Teodósio Walther que traduziu o livro de Daniel.

Em 1819, a Sociedade Bíblia Britânica começou a publicar o texto de Almeida em um volume completo. O texto de Almeida ressente-se, desde a edição de 1681, das imperfeições de revisão. Em 1894 e em 1925 fizeram-se revisões gerais no todo ou em parte que lhe mudaram bastante a forma ortográfica. Essas manipulações sucessivas de certa forma desfiguraram o texto primitivo, do qual disse Teófilo Braga:

“É esta tradução o maior e mais importante documento para se estudar o estado da língua portuguesa no século XVII; o padre João Ferreira de Almeida, pregador do Evangelho em Batávia, pela sua longa residência no estrangeiro escapou incólume à retórica dos seiscentistas; a sua origem popular e a sua comunicação com o povo levaram-no a empregar formas vulgatas que nenhum escritor cultista do seu tempo ousaria escrever. Muitas vezes o esquecimento das palavras usuais portuguesas leva-o a recordar termos equivalentes, e é esta uma das causas da riqueza do seu vocabulário. Além disto, a tradução completa da Bíblia presta-se a um severo estudo comparativo com as traduções do século XIV, e com a tradução do padre Figueiredo, do século XVIII. É um magnífico monumento literário”.

2. Figueiredo. O padre Antônio Pereira de Figueiredo, 1725-1797, da congregação do Oratório, deputado da real Mesa Censória, sócio da Academia Real das Ciências, um dos maiores latinistas de seu tempo, escritor elegante e primoroso, traduziu a Bíblia da Vulgata, saindo à luz o Novo Testamento em 1778, em seis volumes. O Antigo Testamento veio seguidamente em 17 volumes entre 1783 e 1790. A edição de 1819, em sete volumes, é considerada o padrão, havendo sido retocada na tradução e notas. É o texto autorizado pela Igreja Romana.

Em 1821, a Sociedade Bíblica Britânica publicou o texto de Figueiredo em um só volume. Na edição de 1828 suprimiram-se os livros apócrifos, e um exemplar enviado em 1842 pela alfândega de Angra do Heroísmo, Açores, ao governo português, foi examinado pelo arcebispo D. Francisco de S. Luís, posteriormente cardeal Saraiva, que deu parecer favorável ao livro.

3. Tradução Brasileira. Em 1902 a Sociedade Bíblica Americana e a Sociedade Bíblica Britânica nomearam uma comissão composta dos Revs. William Cabell Brown, depois bispo de Minnesota, J. R. Smith, J. M. Kyle, A. B. Trajano, E. C. Pereira e Hipólito de Oliveira Campos, para do hebraico e grego tirarem uma versão que acompanhasse mais de perto o original, servindo-se dos textos resultantes do cotejo dos manuscritos estudados pela crítica científica.

Saiu a lume o Novo Testamento completo em 1910 e a Bíblia toda em 1917.

Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida.

João 5:24