Sócrates [469 a.C. – 399 a.C.]
Sócrates (em grego: Σωκράτης, IPA: [sɔːkrátɛːs], transl. Sōkrátēs; Alópece, c. 469 a.C. – Atenas, 399 a.C.) foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental, é até hoje uma figura enigmática, conhecida principalmente através dos relatos em obras de escritores que viveram mais tarde, especialmente dois de seus alunos, Platão e Xenofonte, bem como pelas peças teatrais de seu contemporâneo Aristófanes. Muitos defendem que os diálogos de Platão seriam o relato mais abrangente de Sócrates a ter perdurado da Antiguidade aos dias de hoje.
Através de sua representação nos diálogos de seus estudantes, Sócrates tornou-se renomado por sua contribuição no campo da ética, e é este Sócrates platônico que legou seu nome a conceitos como a ironia socrática e o método socrático (elenchus). Este permanece até hoje a ser uma ferramenta comumente utilizada numa ampla gama de discussões, e consiste de um tipo peculiar de pedagogia no qual uma série de questões são feitas, não apenas para obter respostas específicas, mas para encorajar também uma compreensão clara e fundamental do assunto sendo discutido. Foi o Sócrates de Platão que fez contribuições importantes e duradouras aos campos da epistemologia e da lógica, e a influência de suas ideias e de seu método continuam a ser importantes alicerces para boa parte dos filósofos ocidentais que se seguiram a ele.
Nas palavras do filósofo britânico Martin Cohen, Platão, o idealista, oferece “um ídolo, a figura de um mestre, para a filosofia. Um santo, um profeta do ‘Deus-Sol’, um professor condenado por seus ensinamentos como herege”.
Sua Vida
Nascido nas planícies do monte Licabeto, próximo a Atenas, Sócrates vinha de família humilde. Era filho de Sofronisco – motivo pelo qual ele era chamado em sua juventude de Sokrates ios Sōfronískos (Sócrates, o filho de Sofronisco) -, um escultor, especialista em entalhar colunas nos templos, e Fainarete, uma parteira (ambos eram parentes de Aristides, o Justo).
Durante sua infância, ajudou seu pai no ofício de escultor. Porém, muitas vezes, seus amigos zombavam da sua incapacidade de trabalhar o mármore. Mesmo quando aparecia uma oportunidade de ajudar o seu pai, sempre acabava atrapalhando. Seu destino foi apontado, pelo próprio Oráculo de Delfos, como o de ser um grande educador, mas foi somente por influência da sua mãe que ele pôde descobrir sua verdadeira vocação.
Sócrates foi casado com Xântipe, que era bem mais jovem que ele, e teve com ela um filho, Lamprocles. Porém, segundo Aristóteles e seu discípulo Aristóxenes, Sócrates teria tido outra esposa, Mirto, com quem teve os filhos Sofronisco e Menexêno. Segundo relato posterior de Diógenes Laércio, ela teria sido a segunda esposa e era filha de Aristides, o Justo. Sátiro e Jerônimo de Rodes, também citados por Diógenes Laércio, dizem que, pela falta de homens em Atenas, era permitido a um ateniense casado ter filhos com outra mulher, e que Sócrates teria tido Xântipe e Mirto ao mesmo tempo. Armand D’Angour argumenta que Mirto fora na verdade a primeira esposa de Sócrates, conforme evidenciado pela sua omissão nos relatos de Xenofonte e Platão, que eram jovens quando encontraram com um Sócrates em idade adulta avançada e nem a teriam conhecido.
Seu amigo Críton criticou-o por ter abandonado seus filhos quando se recusou a tentar fugir para evitar sua execução. Este fato mostra que ele (assim como outros discípulos) não teria entendido a mensagem que Sócrates passa sobre a morte (diálogo Fédon).
Sócrates costumava caminhar descalço, não tinha o hábito de tomar banho e amava livros sobre sexologia. Em certas ocasiões, parava o que quer que estivesse fazendo, ficava imóvel por horas, meditando sobre algum problema. Certa vez o fez descalço sobre a neve, segundo os escritos de Platão, o que demonstra seu caráter lendário.
Cláudio Eliano lista Sócrates como um dos grandes homens que gostavam de brincar com crianças: uma vez, Alcibíades surpreendeu Sócrates brincando com seu filho Lamprocles.
Biografia
Detalhes sobre a vida de Sócrates derivam de três fontes contemporâneas: os diálogos de Platão, as peças de Aristófanes e os diálogos de Xenofonte. Não há evidência de que Sócrates tenha ele mesmo publicado alguma obra. Alguns autores defendem que ele não deixou nada escrito pois, além de na sua época a transmissão do saber ser feita, essencialmente, pela via oral, Sócrates assumia-se como alguém que sabe que nada sabe. Assim, para ele, a escrita fecharia o conhecimento, deixando-o de forma acabada, amarrando o seu autor ao estrito contexto de afirmações inamovíveis: se essas afirmações contemplam o erro, a escrita não só o perpetua como garante a sua transmissão.
As obras de Aristófanes retratam Sócrates como um personagem cômico e sua representação não deve ser levada ao pé da letra.
Vocação
Conta-se que, um dia, Sócrates foi levado junto à sua mãe para ajudar em um parto complicado. Vendo sua mãe realizar o trabalho, Sócrates logo filosofou: Minha mãe não irá criar o bebê, apenas ajudá-lo-á a nascer e tentará diminuir a dor do parto. Ao mesmo tempo, se ela não tirar o bebê, logo ele irá morrer, e igualmente a mãe morrerá!
Sócrates concluiu, então, que, de certa forma, ele também era um parteiro. O conhecimento está dentro das pessoas (que são capazes de aprender por si mesmas). Porém, eu posso ajudar no nascimento deste conhecimento. Concluiu ele. Por isso, até hoje os ensinamentos de Sócrates são conhecidos por maiêutica (que significa parteira em grego).
Assim, logo sua vocação falou mais alto e ele partiu para aprender filosofia, vindo a ser discípulo dos filósofos Anaxágoras e Arquelau. Seu talento logo chamou a atenção. Tanto que foi chamado pela Pítia (sacerdotisa do templo de Apolo, em Delfos, na Antiga Grécia) de o mais sábio de todos os homens!
Trabalho
Não se sabe ao certo qual o trabalho de Sócrates, se é que ele teve outro além da filosofia. De acordo com algumas fontes, Sócrates aprendeu a profissão de oleiro com seu pai. Na obra de Xenofonte, Sócrates aparece declarando que se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou ocupação mais importante: maiêutica, o parto das ideias. A maiêutica socrática funcionava a partir de dois momentos essenciais: um primeiro em que Sócrates levava os seus interlocutores a pôr em causa as suas próprias concepções e teorias acerca de algum assunto; e um segundo momento em que conduzia os interlocutores a uma nova perspectiva acerca do tema em abordagem. Daí que a maiêutica consistisse num autêntico parto de ideias, pois, mediante o questionamento dos seus interlocutores, Sócrates levava-os a colocar em causa os seus preconceitos acerca de determinado assunto, conduzindo-os a novas ideias acerca do tema em discussão, reconhecendo, assim, a sua ignorância e gerando novas ideias, mais próximas da verdade.
Sócrates defendia que deve-se sempre dar mais ênfase à procura do que não se sabe, do que transmitir o que se julga saber, privilegiando a investigação permanente.
Sócrates tinha o hábito de debater e dialogar com as pessoas de sua cidade. Ao contrário de seus predecessores, ele não fundou uma escola, preferindo também realizar seu trabalho em locais públicos (principalmente nas praças públicas e ginásios), agindo de forma descontraída e descompromissada, dialogando com todas as pessoas, o que fascinava jovens, mulheres e políticos de sua época.
Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um sofista.
Várias fontes, inclusive os Diálogos de Platão, mencionam que Sócrates tinha servido ao exército em várias batalhas. Na Apologia de Sócrates, Sócrates compara seu período no serviço militar a seus problemas no tribunal, e diz que qualquer pessoa no júri que imagine que ele deveria se retirar da filosofia deveria também imaginar que os soldados devessem bater em retirada quando era provável que pudessem morrer em uma batalha. Estrabão conta que, após uma derrota ateniense em que Sócrates e Xenofonte haviam perdido seus cavalos, Sócrates encontrou Xenofonte caído no chão, e carregou-o por vários estádios, até que a batalha terminou.
Do Julgamento à Morte
“Eu predigo-vos portanto, a vós juízes, que me fazeis morrer, que tereis de sofrer, logo após a minha morte, um castigo muito mais penoso, por Zeus, que aquele que me infligis matando-me. Acabais de condenar-me na esperança de ficardes livres de dar contas de vossas vidas; ora é exatamente o contrário que vos acontecerá, asseguro-vos (…) Pois se vós pensardes que matando as pessoas, impedireis que vos reprovem por viverem mal, estais em erro. Esta forma de se desembaraçarem daqueles que criticam não é nem muito eficaz nem muito honrosa.” Sócrates
O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). Sócrates admitiu que poderia ter evitado sua condenação a morte, bebendo antes o veneno chamado cicuta, se tivesse desistido da vida justa. Mesmo depois de sua condenação, ele poderia ter evitado sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos.
Platão considerou que Sócrates foi condenado por questões evidentemente políticas. Por seu lado, Xenofonte atribuiu a acusação a Sócrates a um fato de ordem pessoal, pelo desejo de vingança. O propósito não era a morte de Sócrates mas sim afastá-lo de Atenas e se isso não ocorreu deveu-se à teimosia de Sócrates.
Julgamento
Tão logo as ideias de Sócrates foram se espalhando pela cidade, ele ganhava mais e mais discípulos.
Assim, pensavam eles: Como um homem poderia ensinar de graça e pregar que não se precisavam de professores como eles?. E mais: Eles não concordavam com os pensamentos de Sócrates, que dizia que para se acreditar em algo, era preciso verificar se aquilo realmente era verdade.
Logo, Sócrates começou a fazer vários inimigos, assim causando uma grande intriga. Mas eis que a guerra do Peloponeso estourou, todos os homens entre 15 e 45 anos de idade foram enviados para lutar. Sócrates, pela sua habilidade de fazer as pessoas o seguirem, foi escolhido então como um dos generais.
Ao final da guerra, com a intenção de salvar os poucos soldados que estavam vivos, Sócrates ordena que todos voltem rapidamente para Atenas, mas deixassem os mortos no campo de batalha – contrariando uma lei que obrigava o general a enterrar todos os seus soldados mortos, ou morrer tentando. Assim, ao chegar, ele é preso.
Usando toda a sua capacidade de persuasão, Sócrates consegue convencer a todos de que era melhor deixar alguns mortos do que morrerem todos, uma vez que se todos morressem, ninguém poderia enterrá-los. Desta forma, ele consegue a liberdade.
Ficou livre por mais 30 anos, quando foi preso novamente, acusado de 3 crimes:
1- Não acreditar nos costumes e nos deuses gregos;
2- Unir-se a deuses malignos que gostam de destruir as cidades;
3- Corromper jovens com suas ideias.
Os acusadores foram: Ânito, Meleto e Lícon.
Ânito – era um líder democrático. Tinha um filho discípulo de Sócrates que ria dos deuses do pai e voltava-se contra eles. Representava a classe dos políticos. Era um rico tanoeiro que representava os interesses dos comerciantes e industriais, era poderoso e influente.
Meleto – era um poeta trágico novo e desconhecido. Foi o acusador oficial, porém nada exigia que ele como acusador oficial fosse o mais respeitável, hábil ou temível, mas somente aquele que assinava a acusação. Representava a classe dos poetas e adivinhos.
Lícon – Pouco se sabe de Lícon. Era um retórico obscuro e o seu nome teve pouca importância e autoridade no decorrer da condenação de Sócrates. Representava a classe dos oradores e professores de retórica. Talvez Lícon pretendesse a condenação de Sócrates, devido ao seu filho ter-se deixado corromper moralmente, filosoficamente e sexualmente por Callias, e Callias era um associado de Sócrates.
Estas 3 acusações foram assim proferidas por Meleto:
“…Sócrates é culpado do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado e de introduzir divindades novas; ele é ainda culpado de corromper a juventude. Castigo pedido: a morte”
Condenação
“O processo e a condenação de Sócrates testemunham o perigo que a ignorância faz correr ao saber, que o mal faz correr à virtude. Mas este perigo não é senão aparente, pois, na realidade, é o justo que triunfa dos seus carrascos. Se bem que seja vítima deles, o triunfo de Sócrates sobre os seus juízes data do dia da sua execução.” (Jean Brun)
Dada, a ele, a chance de se defender destas acusações, Sócrates mostra toda a sua capacidade de pensamento.
Em sua defesa, ele mostra que as acusações eram contraditórias, questionando: Como posso não acreditar nos deuses e ao mesmo tempo me unir a eles?.
Mesmo assim, o tribunal, constituído por 501 cidadãos, o condenou. Mas não à morte, pois sabiam que se o condenassem à morte, milhares de jovens iriam se revoltar. Condenaram-no a se exilar para sempre, ou a lhe ser cortada a língua, impossibilitando-o assim de ensinar aos demais. Caso se negasse, ele seria morto.
Após receber sua sentença, Sócrates proferiu: – Vocês me deixam a escolha entre duas coisas: uma que eu sei ser horrível, que é viver sem poder passar meus conhecimentos adiante. A outra, que eu não conheço, que é a morte … escolho pois o desconhecido!
Morte
“Mas eis a hora de partir: eu para a morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo, ninguém o sabe, exceto os deuses.”
Ao se dirigir aos atenienses que o julgaram, Sócrates disse que lhes era grato e que os amava, mas que obedeceria antes aos deuses do que a eles, pois, enquanto tivesse um sopro de vida, poderiam estar seguros de que não deixaria de filosofar, tendo, como sua única preocupação, andar pelas ruas a fim de persuadir seus concidadãos, moços e velhos, a não se preocupar nem com o corpo nem com a fortuna tão apaixonadamente quanto com a alma, a fim de torná-la tão boa quanto possível.
Sócrates, então, deixou o tribunal e foi para a prisão. Como existia uma lei que exigia que nenhuma execução acontecesse durante a viagem votiva de um navio sagrado a Delos, Sócrates ficou a ferros por 30 dias, sob custódia de onze magistrados encarregados em Atenas da polícia e da administração penitenciária.
Durante estes 30 dias, ele recebeu os seus amigos e conversou com eles. Declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria, Sócrates recusava a ajuda dos amigos para fugir. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com os amigos.
Chegado o momento da execução, pouco antes de beber o veneno, Sócrates, de forma irônica e sarcástica (como de costume), proferiu suas últimas palavras:
“Críton, somos devedores de um galo a Asclépio; pois bem, pagai a minha dívida. Pensai nisso!”
Após essas palavras, Sócrates bebeu a cicuta (Conium maculatum) e, diante dos amigos, aos 70 anos, morreu por envenenamento.
Platão, no seu livro Fédon, assim narrou a morte de seu mestre:
Depois de assim falar, levou a taça aos lábios e, com toda a naturalidade, sem vacilar um nada, bebeu até à última gota.
Até esse momento, quase todos tínhamos conseguido reter as lágrimas; porém quando o vimos beber, e que havia bebido tudo, ninguém mais aguentou. Eu também não me contive: chorei à lágrima viva. Cobrindo a cabeça, lastimei o meu infortúnio; sim, não era por desgraça que eu chorava, mas a minha própria sorte, por ver de que espécie de amigo me veria privado. Critão levantou-se antes de mim, por não poder reter as lágrimas. Apolodoro, que, desde o começo, não havia parado de chorar, pôs-se a urrar, comovendo, seu pranto e lamentações, até o íntimo de todos os presentes, com exceção do próprio Sócrates.– Que é isso, gente incompreensível? Perguntou. Mandei sair as mulheres, para evitar esses exageros. Sempre soube que só se deve morrer com palavras de bom agouro. Acalmai-vos! Sede homens!
Ouvindo-o falar dessa maneira, sentimo-nos envergonhados e paramos de chorar. E ele, sem deixar de andar, ao sentir as pernas pesadas, deitou-se de costas, como recomendara o homem do veneno. Este, a intervalos, apalpava-lhe os pés e as pernas. Depois, apertando com mais força os pés, perguntou se sentia alguma coisa. Respondeu que não. De seguida, sem deixar de comprimir-lhe a perna, do artelho para cima, mostrou-nos que começava a ficar frio e a enrijecer. Apalpando-o mais uma vez, declarou-nos que no momento em que aquilo chegasse ao coração, ele partiria. Já se lhe tinha esfriado quase todo o baixo-ventre, quando, descobrindo o rosto – pois o havia tapado antes – disse, e foram suas últimas palavras:
– Critão (exclamou ele), devemos um galo a Asclépio. Não te esqueças de saldar essa dívida!
“Assim farei!”, respondeu Critão. Vê se queres dizer mais alguma coisa. A essa pergunta, já não respondeu. Decorrido mais algum tempo, deu um estremeção. O homem o descobriu; tinha o olhar parado. Percebendo isso, Critão fechou-lhe os olhos e a boca.
Tal foi o fim do nosso amigo, Equécrates, do homem, podemos afirmá-lo, que entre todos os que nos foi dado conhecer, era o melhor e também o mais sábio e mais justo.
No Fédon, Sócrates dá razões para crer na imortalidade. Quando Sócrates foi condenado à morte, comentou, alegremente, que, no outro mundo, poderia fazer perguntas eternamente sem ser condenado a morrer, porque era imortal.
Ruptura e legado
Sócrates provocou uma ruptura sem precedentes na história da Filosofia grega, por isso ela passou a considerar os filósofos entre pré-socráticos e pós-socráticos. Enquanto os filósofos pré-Socráticos, chamados de naturalistas, procuravam responder a questões do tipo: “O que é a natureza ou o fundamento último das coisas?” Sócrates, por sua vez, procurava responder à questão: “O que é a natureza ou a realidade última do homem?”.
Os sofistas, grupo de filósofos (título negado por Platão) originários de várias cidades, viajavam pelas pólis, onde discursavam em público e ensinavam suas artes, como a retórica, em troca de pagamento. Sócrates se assemelhava exteriormente a eles, exceto no pensamento. Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um sofista. Para os sofistas, tudo deveria ser avaliado segundo os interesses do homem e da forma como este vê a realidade social (subjetividade), segundo a máxima de Protágoras :“O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”. Isso significa que, segundo essa corrente de pensamento, as regras morais, as posições políticas e os relacionamentos sociais deveriam ser guiados conforme a conveniência individual. Para este fim, qualquer pessoa poderia se valer de um discurso convincente, mesmo que falso ou sem conteúdo. Os sofistas usavam, de fato, complicados jogos de palavras, no discurso para demonstrar a verdade daquilo que se pretendia alcançar. Este tipo de argumento ganhou o nome de sofisma.
Em resumo, a sofística destruía os fundamentos de todo conhecimento, já que tudo seria relativo (relativismo) e os valores seriam subjetivos, assim como impedia o estabelecimento de um conjunto de normas de comportamento que garantissem os mesmos direitos para todos os cidadãos da pólis. Tanto quanto os sofistas, Sócrates abandonou a preocupação em explicar e se concentrou no problema do homem. No entanto, contrariamente aos sofistas, Sócrates travou uma polêmica profunda com estes, pois procurava um fundamento último para as interrogações humanas (“O que é o bem?” “O que é a virtude?” “O que é a justiça?”); enquanto os sofistas situavam as suas reflexões a partir dos dados empíricos, o sensório imediato, sem se preocupar com a investigação de uma essência da virtude, da justiça do bem etc., a partir da qual a própria realidade empírica pudesse ser avaliada.
Sócrates contribuiu para que as pessoas se apercebessem da descoberta da evidência que é a manifestação do mestre interior à alma. Conhecer-se a si mesmo seria conhecer Deus em si.
Aquilo que colocou Sócrates em destaque foi o seu método, e não tanto as suas doutrinas. Sócrates baseava-se na argumentação, insistindo que só se descobre a verdade pelo uso da razão. O seu legado reside sobretudo na sua convicção inabalável de que mesmo as questões mais abstratas admitem uma análise racional.
Filosofia
O seu pensamento desenvolveu-se de 3 grandes ideias:
a) a crítica aos sofistas;
b) a arte de perguntar;
c) a consciência do Homem.
Método Socrático
O método socrático consiste em uma técnica de investigação filosófica, que faz uso de perguntas simples e quase ingênuas que têm, por objetivo, em primeiro lugar, revelar as contradições presentes na atual forma de pensar do aluno, normalmente baseadas em valores e preconceitos da sociedade, e auxiliá-lo assim a redefinir tais valores, aprendendo a pensar por si mesmo.
Ideias Filosóficas
As crenças de Sócrates, em comparação às de Platão, são difíceis de discernir. Há poucas diferenças entre as duas ideias filosóficas. Consequentemente, diferenciar as crenças filosóficas de Sócrates, Platão e Xenofonte é uma tarefa difícil e deve-se sempre lembrar que o que é atribuído a Sócrates pode refletir o pensamento dos outros autores.
Se algo pode ser dito sobre as ideias de Sócrates, é que ele foi moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente de seus contemporâneos atenienses. Quando estava sendo julgado por heresia e por corromper a juventude, usou seu método de elenchos para demonstrar as crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acreditava na imortalidade da alma e que teria recebido, em um certo momento de sua vida, uma missão especial do deus Apolo Apologia, a defesa do logos apolíneo “conhece-te a ti mesmo”.
Sócrates também duvidava da ideia sofista de que a arete (virtude) podia ser ensinada para as pessoas. Acreditava que a excelência moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, pois pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Isso talvez tenha sido a causa de não ter se importado muito com o futuro de seus próprios filhos. Sócrates frequentemente dizia que suas ideias não eram próprias, mas de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas.
Amor
Em O Banquete, de Platão, Sócrates revela que foi a sacerdotisa Diotima de Mantinea que o iniciou nos conhecimentos e na genealogia do amor. As ideias de Diotima estão na origem do conceito socrático-platônico do amor. Também em O Banquete, no discurso de Alcibíades se descreve o amor entre Sócrates e Alcibíades.
Conhecimento
Sócrates dizia que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância. Segundo ele, a verdade, escondida em cada um de nós, só é visível aos olhos da razão (daí a célebre frase “Só sei que nada sei!”). Ele acreditava que os erros são consequência da ignorância humana. Nunca proclamou ser sábio. A intenção de Sócrates era levar as pessoas a conhecerem seus desconhecimentos (“Conhece-te a ti mesmo”). Através da problematização de conceitos conhecidos, daquilo que se conhece, percebem-se os dogmas e preconceitos existentes.
Virtude
O estudo da virtude se inicia na chamada ética das virtudes com Sócrates, para quem a virtude é o fim da atividade humana e se identifica com o bem que convém à natureza humana.
Sócrates acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Convidava outros a se concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se crescer como uma população. Suas ações são provas disso: ao fim de sua vida, aceitou a sentença de morte quando todos acreditavam que fugiria de Atenas, pois acreditava que não podia fugir de sua comunidade. Acreditava que os seres humanos possuíam certas virtudes, tanto filosóficas quanto intelectuais. Dizia que a virtude era a mais importante de todas as coisas.
Política
Diz-se que Sócrates acreditava que as ideias pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado. Opunha-se à democracia aristocrática que era praticada em Atenas durante sua época; essa mesma ideia surge nas Leis de Platão, seu discípulo. Sócrates acreditava que, ao se relacionar com os membros de um parlamento, a própria pessoa estaria fazendo-se hipócrita.
O Sócrates também foi a favor de uma burocracia eleita, em detrimento de uma burocracia por sorteio:
[Foi] considerado que esta forma de nomeação de magistrados (isto é, as eleições) também foi mais democrático do que o vazamento de lotes, uma vez que, no âmbito do plano de eleição por sorteio, oportunidade decidiria a questão e os partidários da oligarquia, muitas vezes, obtêm os escritórios; Considerando que, no âmbito do plano de selecionar os homens dignos, as pessoas têm, em suas mãos, o poder de escolher aqueles que estavam mais ligados à constituição existente.
[Sócrates] ensinou aos seus companheiros a desprezar as leis estabelecidas insistindo na loucura de nomeação de funcionários públicos por sorteio, quando nenhum iria escolher um piloto ou construtor ou flautista por sorteio, nem qualquer outro artesão de trabalho em que os erros são muito menos desastrosos do que erros na arte de governar.
41 Frases de Sócrates – Filósofo e Pensador
Tudo o que sei, é que nada sei!
O verdadeiro conhecimento vem de dentro.
Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos.
Deve-se temer mais o amor de uma mulher do que o ódio de um homem.
Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.
Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.
O amigo deve ser como o dinheiro, cujo valor já conhecemos antes de termos necessidade dele.
Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.
Meu conselho é que se case. Se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo.
Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.
Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos.
Aquilo que não puderes controlar, não ordenes.
Não penses mal dos que procedem mal; pensa somente que estão equivocados.
A sabedoria começa na reflexão.
Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente.
Não vivemos para comer, mas comemos para viver.
Creio que tenho prova suficiente de que falo a verdade: a pobreza.
Mas eis a hora de partir: eu para morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo ninguém o sabe, exceto os deuses.
A vida sem ciência é uma espécie de morte.
O homem faz o mal, porque não sabe o que é o bem.
A maneira de se conseguir boa reputação reside no esforço em se ser aquilo que se deseja parecer.
Se alguém procura a saúde, pergunta-lhe primeiro se está disposto a evitar no futuro as causas da doença; em caso contrário, abstém-te de o ajudar.
A um homem bom não é possível que ocorra nenhum mal, nem em vida nem em morte.
Quanto mais sei que sei, menos sei que sei.
Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e serás sábio.
Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará.
O próprio sábio cora das suas palavras, quando elas surpreendem as suas ações.
Se alguém mente sobre você, faça o contrário para que ele se passe por mentiroso.
Transforme as pedras que você tropeça nas pedras de sua escada.
Se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por desonestidade.
Só quem entende a beleza do perdão pode julgar seus semelhantes.
A palavra é o fio de ouro do pensamento.
Seja um homem sério, brinque.
A mentira nunca vive o suficiente para envelhecer.
Melhor sofrer uma injustiça do que cometê-la.
Quem melhor conhece a verdade é mais capaz de mentir.
Só é útil o conhecimento que nos torna melhores.
Todo o meu saber consiste em saber que nada sei.
O amor não é um deus, nem um mortal, e sim um grande demônio.
Inteligente é aquele que sabe que não sabe nada.
O homem para ser completo tem que estudar, trabalhar e lutar.
Jesus Cristo [7–2 a.C. a 30–33 d.C.]
O Nome de Jesus, este precioso nome que está acima de todos os nomes. Jesus herdou do Pai um nome mais grandioso do que qualquer ser angelical (Hebreus 1:1-6).
Jesus (em aramaico: ישוע/ יֵשׁוּעַ; romaniz.: Yeshua; em grego: Ἰησοῦς; romaniz.: Iesous), também chamado Jesus de Nazaré, nasceu de 7–2 a.C. e faleceu em 30–33 d.C. A diferença entre o nascimento “real” de Jesus e o “ano zero” do calendário cristão se deve a um erro de datação, quando a Igreja através do monge Dionísio Exíguo, encarregado pelo papa, resolveu reformular o calendário, no século VI.
Foi um pregador e líder religioso judeu do primeiro século. Ele é a figura central do cristianismo e aquele que os ensinamentos de maior parte das denominações cristãs, além dos judeus messiânicos, consideram ser o Filho de Deus.
O cristianismo e o judaísmo messiânico consideram Jesus como o Messias aguardado no Antigo Testamento e referem-se a ele como Jesus Cristo, um nome também usado fora do contexto cristão.
Praticamente todos os académicos contemporâneos concordam que Jesus existiu realmente, embora não haja consenso sobre a confiabilidade histórica dos evangelhos e de quão perto o Jesus bíblico está do Jesus histórico.
Quase todas as linhas cristãs acreditam que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu de uma virgem, praticou milagres, fundou a Igreja, morreu crucificado como forma de expiação, ressuscitou dos mortos e ascendeu ao Céu, do qual regressará.
A grande maioria dos cristãos adoram Jesus como a encarnação de Deus, o Filho, a segunda das três pessoas na Santíssima Trindade. Alguns grupos cristãos rejeitam a Trindade, no todo ou em parte.
★ 50 Frases de Jesus Cristo – Senhor dos Senhores
E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus.
Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
É melhor dar do que receber.
Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?
Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!
A boca fala do que está cheio o coração.
Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.
Não julgueis segundo a aparência, e sim segundo a reta justiça.
Não temas, eu venci o mundo!
Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.
Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua Justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas.
Nunca faça para os outros o que você não gostaria que fizessem para você.
Mil cairão ao teu lado, dez mil à tua direita. Mas tu não serás atingido.
Ame o próximo, como a ti mesmo.
Não existe amor maior do que dar a vida por um amigo.
Aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede.
Tudo é possível ao que crê.
Quem nunca cometeu um pecado que atire a primeira pedra.
Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.
Ama a Deus sobre todas as coisas.
Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.
Aquele que não renuncia tudo não é digno de ser chamado Discípulo!
Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus!
A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem
bons, todo o teu corpo terá luz.
Se o teu inimigo quer fazer-te caminhar uma légua, vai com ele duas.
Quem de mim se alimenta por mim viverá.
Estarei contigo até o final dos tempos.
Por tuas palavras, serás condenado.
A sabedoria é provada justa pelas suas obras.
Basta a cada dia o seu próprio mal.
Se me amas guardarás os meus mandamentos.
Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.
A vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui.
Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.
Os bons habitarão a Terra.
Deixai vir a mim as criancinhas, pois delas é o reino de Deus.
Pois o salário do pecado é a morte.
Quem não está comigo, está contra mim; e aquele que comigo não colhe, espalha.
O amor nunca falha, havendo profecias serão aniquiladas, havendo ciências cessarão.
Limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de intemperança.
Portanto vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.
Os farei pescadores de homens!
E a ninguém na terra chameis de vosso pai, pois um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus.
Quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos com ele, então se assentará no trono da sua glória.
Que glória vocês terão se amarem aos que os amam? Até os pecadores amam aos que os amam.
Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.
Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá.
Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.
A Borboleta Azul
Havia um viúvo que morava com suas duas filhas que eram muito curiosas e inteligentes. As meninas estavam o tempo todo fazendo perguntas. Algumas ele sabia responder, outras não. Algumas vezes não temos realmente a resposta outras preferimos nos abster.
Como todo pai, que quer sempre o melhor para os filhos, ele pretendia oferecer a elas a melhor educação, então mandou as meninas passarem férias com um sábio que morava no alto de uma colina.
O sábio sempre respondia todas as perguntas sem hesitar. Impacientes com o sábio, as meninas resolveram inventar uma pergunta que ele não saberia responder.
Então, uma delas apareceu com uma linda borboleta azul que usaria para pregar uma peça no sábio.
– O que você vai fazer? – perguntou a irmã.
– Vou esconder a borboleta em minhas mãos e perguntar se ela está viva ou morta.
– Se ele disser que ela está morta, vou abrir minhas mãos e deixá-la voar. Se ele disser que ela está viva, vou apertá-la e esmagá-la. E assim qualquer resposta que o sábio nos der estará errada!
As duas meninas foram então ao encontro do sábio, que estava meditando.
– Tenho aqui uma borboleta azul. Diga-me sábio, ela está viva ou morta?
Calmamente o sábio sorriu e respondeu:
– Depende de você… ela está em suas mãos.
Assim é a nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro. Não devemos culpar ninguém quando algo dá errado. Somos nós os responsáveis por aquilo que fazemos ou deixamos de fazer; conquistamos ou não conquistamos. Nós somos os próprios culpados pelas nossa vitórias e fracassos. Deus nos deixa escolher.
A melhor maneira de ter uma vida tranquila e sossegada é entregando-a nas mãos de Cristo. Devemos deixar que Jesus nos mostre, pela Sua Palavra, a Bíblia, o que é que devemos fazer. Se tivermos que escolher entre o bom e o melhor, devemos sem dúvida nem hesitação optar pelo melhor.
Nossa vida está em nossas mãos, assim como a borboleta azul estava nas mãos da garotinha… Cabe a nós escolher o que fazer com ela. Se nos guiarmos pelo nosso próprio coração podemos nos decepcionar, pois ele é enganoso “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9) , mas se nos guiarmos por Jesus, não devemos temer mal algum, pois Cristo é o melhor guia e o melhor caminho “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam”. (Salmos 23:4), embora existam muitos bons caminhos aos nosso olhos. “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. ( João 14:6 ).
Como podemos seguir o caminho de Cristo em verdade e temor?
Amor na Latinha de Leite
“Esta não é apenas mais uma história é um fato real”
Dois irmãozinhos maltrapilhos provenientes da favela – um deles de cinco anos e o outro de dez, iam pedindo um pouco de comida pelas casas da rua que beira o morro”.
Estavam famintos:
“vai trabalhar e não amole”, ouvia-se detrás das portas; “aqui não há nada moleque…”, dizia outro…
As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças… Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes: “Vou ver se tenho alguma coisa para vocês… coitadinhos!
E voltou com uma latinha de leite. Que festa! Ambos se sentaram na calçada. O menorzinho disse para o de dez anos “você é mais velho, tome primeiro…” e olhava para ele com seus dentes brancos, a boca semiaberta, mexendo a ponta da língua.
Eu, como um tolo, contemplava a cena… Se vocês vissem o mais velho olhando de lado para o pequenino!
Levou a lata à boca e, fazendo gesto de beber, apertou fortemente os lábios para que por eles não penetrassem uma só gota de leite. Depois, estendendo a lata, diz ao irmão: “Agora é sua vez. Só um pouco.” E o irmãozinho, dando um grande gole exclama: “como está gostoso!” “Agora eu”, diz o mais velho. E levando a latinha, já meio vazia, à boca, não bebe nada. “Agora você”, “Agora eu”, “Agora você”, “Agora eu”… E, depois de três, quatro, cinco ou seis goles, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho, com a camisa de fora, esgota o leite todo… ele sozinho. Esse “agora você”, “agora eu” encheram-me os olhos de lágrimas…
E então, aconteceu algo que me pareceu extraordinário. O mais velho começou a cantar, a sambar, a jogar futebol com a lata de leite. Estava radiante, o estômago vazio, mas o coração transbordante de alegria. Pulava com a naturalidade de quem não fez nada de extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias sem dar-lhes maior importância.
Deste irmão mais velho nós podemos aprender a grande lição, “quem dá é mais feliz do que quem recebe.” “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”. (Atos 20:35).
É assim que nós temos de amar. O amor é um dom de Deus! “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” (I Coríntios 13:13).
Se nos sacrificamos com esta naturalidade, com esta elegância, com esta discrição, devemos fazer por que nos sentimos bem, porque amamos e também porque não precisamos de agradecimentos pois, a Palavra de Deus nos diz:
“E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.” (Mateus 10:42).
“Porquanto, qualquer que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão.” (Marcos 9:41).
“Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho.” (I Coríntios 3:8).
Você já encontrou meninos como estes acima? Como você reagiu? Como você costuma reagir? Na próxima vez que encontrar uma criança carente, pergunte-lhe o seu nome e ofereça algo mais do que uma lata de leite – ofereça um pouco da sua atenção!
Como você poderia se tornar um pouco mais feliz? Ora fazendo a vida de alguém melhor! Menos dolorida! Não seja egoísta, saia de seu mundinho farto e fácil, e, tente pelo menos sentir o que o necessitado sente, já que não é possível entrar no seu mundo das dificuldades! Cristo já havia dito: “E qualquer que receber em meu nome um menino, tal como este, a mim me recebe.” (Mateus 18:5). “Qualquer que receber um destes meninos em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, recebe, não a mim, mas ao que me enviou.” (Marcos 9:37).
Fique ciente que tudo o que você fizer, de bom ou mal, irá pesar em sua balança, pois um dia haverá o juízo de Deus e tudo será trazido à tona: “Sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre.” (Efésios 6:8).
Amor Mútuo
Em uma estória, conta-se que Deus convidou um homem para conhecer o Céu e o Inferno, e, não há dúvida alguma que se tivéssemos o mesmo convite, aceitaríamos… Assim; aceitou o homem.
Todos nós temos sempre o costume de deixar tudo o que é melhor para o final, notamos isso até mesmo quando vamos comer… Deixamos normalmente a sobremesa para o final, nunca a comemos antes. Então primeiramente foram conhecer o Inferno.
E entrando no Inferno, passando por uma porta, o homem viu uma sala em cujo centro havia um caldeirão de substanciosa sopa que lhe dava até água na boca, e, à sua volta estavam sentadas muitas pessoas famintas e desesperadas. Cada uma delas segurava uma colher, contudo, de cabo muito comprido, que, de certa forma, lhes possibilitava alcançar o caldeirão, mas não permitia que colocassem a sopa na própria boca devido ao comprimento do cabo. O sofrimento era grande, o homem conseguia sentir isso.
Deus achando que homem já havia visto o suficiente, em seguida o levou para conhecer o Céu. Entraram no Céu, e ao atravessar uma porta deram em uma sala idêntica à primeira que o homem já havia visto naquele lugar horrível. Havia o mesmo caldeirão; muitas pessoas em volta, e, as mesmas colheres de cabo muito comprido. Mas o que o homem notava é que, não havia desespero algum nas pessoas; estavam todos saciados. Não havia fome, nem sofrimento algum… Era visível o contentamento. “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas”. (Apocalipse 21:4).
O homem sem entender o que estava acontecendo, pergunta ao Senhor:
– Eu não compreendo, Senhor Deus! Por que aqui as pessoas estão felizes e saciadas enquanto lá no Inferno, na outra sala morrem de aflição de fome e desespero; se não há diferença, é tudo igual?
Deus sorriu e com grande amor respondeu:
– Você não percebeu? É porque aqui eles aprenderam a dar comidas uns aos outros.
Vamos tirar proveito desta pequena estória, analisar e refletir nas situações e as lições que aqui se encontram. Podemos aprender com isso também.
A primeira delas é que no Inferno havia um grande egoísmo; tal como quase sempre acontece conosco. Pode notar estamos sempre muito preocupados com nosso próprio “eu” e, dificilmente nos lembramos das outras pessoas. Já nos gostamos por natureza, então agora só precisamos amar ao próximo [“Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Gálatas 5:14)] É um dos mandamentos que Jesus deixou.
Não queremos nem saber o que se passa no vizinho. O que consegui com meu esforço é tudo meu; é minha vida. Olhar para os lados? De maneira alguma! Porque posso me deparar com uma situação que preciso ajudar alguém, então não quero nem pensar em virar o rosto para o lado. Estou muito preocupado com a minha própria fome e não quero analisar a situação para eu não me envolver com a fome e a dificuldade alheias. “E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio”. (Lucas 16:23).
As dificuldades em nossas vidas nos fazem procurar alternativas e sermos criativos! Na situação das pessoas no Inferno estavam preocupados consigo mesmo e sequer pensaram na união, eles estavam querendo se safar da situação triste e desesperadora em que se encontravam, não tiveram a iniciativa de buscar alternativas que pudessem resolver o problema de uma forma geral. “E separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes”. (Mateus 24:51). Faltou uma ajuda, faltou a solidariedade, faltou o amor mútuo, aquele amor de Jesus nos ofereceu… um amor sem medidas, um amor incondicional.
Ainda que procuremos transpor as barreiras que aparecem em nosso caminho, melhor é quando fazemos isso com a ajuda de outras pessoas. No Céu acontecia assim, as pessoas se ajudavam mutuamente, pelo amor que receberam de Cristo e, só desta maneira eram compensados tendo sua fome saciada. “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça”. (II Pedro 3:13). É muito difícil fazermos algo sozinhos, embora não seja impossível. Portanto quando for fazer algo e encontrar dificuldades ou quando tiver problemas, tente se lembrar de pedir ajuda, deixe de lado o orgulho [“Eis que a sua alma está orgulhosa…”. (Habacuque 2:4)] e conte sua dificuldade para outros para que conheçam seu problema e assim te possam estender a mão.